segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Conglomerados de Moda Brasileiros e a Direção Criativa

Foi-se o tempo em que o estilista fazia o duplo papel de gestor e criador dentro do seu próprio negócio – não que esta figura não exista mais, porém ela está cada vez mais em extinção. Com a globalização e o apelo planetário as marcas de moda estão cada vez mais focadas em público-alvo e necessitam agora de profissionais que possam tocar o negócio de forma plena, com conhecimento de mercado e habilidades específicas. Esta nova configuração tem sacudido o “mundinho fashion” na Europa e Estados Unidos desde 1980 e no limiar do século XXI chega ao Brasil com força total através da formação dos grandes conglomerados de moda, uma tendência irreversível do mercado: grupos econômicos com portfólio diversificado de marcas que atendem a estilos de vida diferenciados.

Principais conglomerados de moda no mundo

            Se em escala global o grupo LVMH (LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton S.A. ou simplesmente LVMH, é uma holding francesa especializada em artigos de luxo. Foi formado pelas fusões dos grupos Moët et Chandon e Hennessy e, posteriormente, Louis Vuitton. Detêm as marcas Belvedere, Cape Mentelle, Chandon Estates, Hennessy, Krug, Moët & Chandon, Dom Pérignon - vinho, Veuve Clicquot, Chaumet, Dior Watches, TAG Heuer, Zenith international S.A., Louis Vuitton, Fendi, Bvlgari, Berluti, Céline, Donna Karan, Nowness, Emilio Pucci, Givenchy, Kenzo, Loewe, Marc Jacobs, La Samaritaine, Le Bon Marché entre outras marcas) tem o grupo PPR (PPR é uma holding francesa com sede em Paris, especializado em artigos de luxo. Originalmente chamado Pinault-Printemps-Redoute, adotou a atual denominação em 18 de maio de 2005 e tem entre marcas do seu portfólio    Gucci, Yves Saint Laurent, Sergio Rossi, Boucheron, Bottega Veneta, Bédat & Co, Alexander McQueen, Stella McCartney, Balenciaga, Magasins du Printemps, Redcats, RedcatsUSA, FNAC, Conforama, CFAO) como maior rival, no Brasil, o movimento dos conglomerados está no início, mas já tem players de peso AMC Têxtil e Inbrands.

Os pequenos Golias da moda nacional

O grupo AMC Têxtil, com sede no estado de Santa Catarina, começou incialmente focado no processo industrial de produção de malhas para o mercado de moda, a malharia Menegotti. Hoje comandado pelo empresário Alexandre Menegotti, começou a aquisição de marcas pela também catarinense Colcci, atualmente a marca que mais vende no Brasil. Posteriormente expandiu o portfólio com a aquisição da marca Carmelitas, posicionada no mercado de luxo. A segunda marca foi a Sommer, do estilista Marcelo Sommer, que prometia ser um grande player nacional, porém por problemas de direção criativa o estilista criador foi afastado e a marca perdeu mercado, identidade e vendas. O licenciamento do rupo para produzir a primeira marca de roupas da Coca-Cola Company também gerou uma nova marca para o mercado, a Coca-Cola Clothing (que atualmente se chama Coke Clothing). Contudo, a grande cartada foi a negociação conduzida em março de 2008, a compra de todas as marcas pertencentes ao empresário Tufi Duek: Forum, Forum Tufi Duek, Tufi Duek e Triton. Marcas tradicionais e fortes no mercado de varejo nacional.
Depois de um ano ainda conduzindo o estilo o da Forum Tufi Duek deixou as marcas que passaram a ter diretores criativos, sendo o assistente Eduardo Pombal conduzido a Diretor Criativo da Tufi Duek – que desfila na São Paulo Fashion Week – tendo bastante aceitação da crítica especializada e de mercado, sendo um dos grandes cases de sucessão de direção criativa no mercado nacional.


 (Eduardo Pombal, o Diretor Criativo que suscedeu Tuf Duek - à direita -  e está sendo um case de sucesso)

            Já o grupo InBrands nasceu da principal concorrente da Forum no mercado. O proprietário da grife Ellus, Nelson Alvarenga, juntou-se ao Vinci Partners, grupo de investidores liderado pelo financista Gilberto Sayão para criar uma holding de moda com ambições de se tornar o maior player nacional no mercado de moda. Com sede estrategicamente pensada no Rio de Janeiro, o portfólio do grupo já é grande: Ellus, 2nd Floor, Isabela Capeto (atualmente somente contrato de exploração comercial por 02 anos), Alexandre Herchcovitch, Bitang, Richards, Salinas, VR Menswear, VR kids, Mandi e Luminosidade (empresa que detêm as marcas São Paulo Fashion Week e Fashion Rio). Segundo a Istoé Dinheiro, o faturamento atual está na casa de R$ 500 milhões e a tendência é crescer mais. De acordo com o próprio Nelson Alvarenga a Osklen, Daslu e outras marcas estão sendo sondadas. “Temos dinheiro em caixa” diz ele, que também pretende abrir capital na bolsa de valores.


            Nelon Alvarenga - 50% da Inbrabs

“Correndo por fora”

Contudo eles não são os únicos grupos de moda, a tendência é que surjam outros. No rastro dos dois maiores, pelo menos quatro outros estão chamando a atenção:
O grupo Morena Rosa começou timidamente em 1993 Cianorte, no Noroeste do Paraná (a 520 quilômetros de Curitiba) e depois de 17 anos construiu uma sólida trajetória com marcas que são sucesso de vendas no varejo nacional. São mais de 1,7 mil funcionários diretos e que produzem mais de 200 mil peças mensais em quatro marcas: Morena Rosa, Zinco, Maria.Valentina e Joy. Um detalhe chama a atenção: nenhuma de suas marcas desfilam em semanas de moda e estrelas internacionais da moda como Naomi Campbell já fizeram campanha para o grupo.

 O presidente do Grupo Morena Rosa, Marco Antonio Franzato
  
            O Grupo Farm-Animale começou com outra categoria de organização comercial, a associação. Agora, a Farm detém 30% da Animale, e a Animale, 30% da Farm. “Eu e o Roberto (Jatahy, da Animale) somos muito amigos e há um tempo já trocávamos figurinhas sobre varejo e negócios. Fazíamos isso informalmente e agora decidimos tornar oficial. A ideia é deixar a gestão mais eficiente e reforçar ambas as marcas. Ele, por exemplo, é excelente na parte administrativa. Já o meu negócio é o comercial. Então os dois lados saem ganhando com a troca”, conta Marcello Bastos, um dos sócios da Farm.
Isto quer dizer que o grupo além da troca de expertise vai diminuir os custos internos e ainda potencializar as marcas. Segundo Marcello, o objetivo é, mais pra frente, agregar outras marcas também. Na última temporada de moda, do verão 2012, eles anunciaram as mais novas agregadas: a marca Ausländer de Ricardo Brautigam, que tem tido ótima repercussão entre a crítica de moda e mercado consumidor e a marca autoral Priscilla Darolt, que desfila na SPFW.

Ricardo Brautigam, agora Diretor Criativo da sua própria marca, Ausländer
 
            Outro grupo que vem trabalhando com menos alarde, mas já mantêm um significativo portfólio é o grupo Marisol. Em seu guarda-chuva estão a Marisol, Babysol, One Store, Lilica Ripilica, Tigor T. Tigre, Pakalolo, Criativa, Mineral e Rosa Chá. Com forte inserção no mercado e marcas que estão no top of mind dos fashionistas brasileiros, o grupo mantém ótima saúde financeira e está aprofundando a experiência em direção criativa de marcas.
            A última e não menos discreta é o grupo Restoque. A holding controla a marca prime Le Lis Blanc, Bo.Bô e acabou de anunciar que possui 100% da John John Denim, mantendo o seu estilista fundador João Foltran, como responsável pela linha de produtos jeans.

Conglomerados e direção criativa

       Com este novo modelo de gerir negócios da moda, vai crescendo de importância a figura do diretor criativo dentro do sistema do fashion nacional. Porém ainda faltam profissionais que dominem a criação com a visão de gestor e gestores que entendam as particularidades que o mercado de moda requer. “O Brasil ainda é um adolescente que está entrando no radar do mundo. A própria situação de distribuição de renda é mais avançada lá fora. Esses países mais desenvolvidos estão mais capacitados para o design. Não temos profissionais preparados para isso. Na Europa, há grupos como o LVMH e o PPR com profissionais muito mais preparados. Aqui no Brasil, temos que fazer tudo do início e isso leva tempo. Não adianta dizer que vou investir milhões e botar as melhores cabeças aqui dentro. Temos que ensinar, preparar essas pessoas para comandar as empresas”, afirma o empresário por trás do grupo InBrands, Nelson Alvarenga.
            Em reportagem especial sobre o mercado de moda nacional, a IstoÉ Dinheiro descreveu o atual quadro com precisão cirúrgica O apetite de marcas do Inbrands, porém, esbarra em um problema estrutural do setor: a falta de profissionais qualificados. “A nossa capacidade de digerir marcas é limitada”, diz Felzenszwalb, do Inbrands. Isso não ocorre por falta de dinheiro, mas sim por escassez de gente qualificada no setor. “Estamos sentindo isso na carne, não tem gente para tocar novos negócios”, diz Alvarenga.
                É exatamente com foco nesta nova realidade que o MBA de Direção Criativa de Moda vai focar: criar um novo time de profissionais qualificados para a realidade do mercado de moda global.

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