terça-feira, 20 de setembro de 2011

Trend hunter: Walter Rodrigues – entrevista com o coordenador da equipe de tendências do Insipiramais, um dos mais relevantes fóruns de inspiração e caderno de tendências do Brasil

Walter Rodrigues
Parte 2 de 8

"Moda, para mim, é absolutamente mensagem" Walter Rodriguues




Walter Rodrigues é um dos principais nomes da moda brasileira. Além do trabalho como estilista, ele também atua como coordenador do Núcleo de Design da Assintecal na criação dos conceitos do Fórum de inspirações do Salão Inspiramais, que acontece duas vezes por ano em São Paulo e rodaas principais capitais do Brasil. Nesta entrevista, publicada no USEFASHION (principal escitorio de tendências na plataforma internet no Brasil), o tred hunter fala sobre tendências, metodologia e analisa o atual momento do mercado de moda:



Você comentou no Fórum que a individualidade passou a sobressair à tendência. Isso deve-se a essa individualidade estar cada vez mais plural, o comportamento cada vez mais versátil?



Walter Rodrigues - O diferencial do individualismo é aquela pessoa que acredita no próprio look, é a pessoa que vai influenciar toda uma cadeia. Presto atenção em blogs que focam saídas de desfiles internacionais. Interessante, geralmente a temperatura externa do lugar é a estação passada, não a que está sendo lançada. Então as pessoas estão vestidas com as peças que acreditam ser as mais importantes da estação passada. Percebo que quando a pessoa expressa aquilo que sente, entende como um momento dela, não através só do calçado ou bolsa, mas também do look, cabelo, da forma como se veste, está passando uma mensagem, daquilo que quer mostrar. Moda, para mim, é absolutamente mensagem. E há uma força enorme, como uma ordem, não ditatorial, mas um lado de interpretação pessoal.



A atual geração de jovens consumidores preza cada vez mais por demonstrar sua personalidade, ser responsável por suas escolhas. Isso cria um parâmetro para um aumento de nichos específicos na moda?



WR - Ele já existe, na realidade. Quando Renner, por exemplo, diz: “Você tem um estilo, a Renner tem todos”, a coleção dela é dividida por blocos, está inserido ali não só a percepção do que é aquele consumidor, mas um estilo. Não homem ou mulher, mas surf, street, dress code de trabalho, refinado, clássico. O mundo deverá ser mais segmentado. Fortalecendo o high & low, misturar peça superbarata com peça cara. Isso é uma nova proposta de elegância, inteligência de consumo, em que você não sai inteiro uniformizado com uma só marca.



Ou seja, devemos enfrentar a segmentação do estilo e não mais analisar uma faixa etária?



WR - Não dá mais para falar de moda falando de faixas etárias. Eu me uso como exemplo, até mesmo aqui nas ideias do Fórum. Tenho 51 anos e uso All Star. Era da minha adolescência, dos meus ídolos. Mas quando os designers criam Converse, eles não estão pensando em uma pessoa de 50 anos que usa, fazem para o target deles, menos de 20 anos. Mas eu uso de acordo com o meu estilo, minha personalidade. Para o Fórum, fomos para a rua entrevistar pessoas e um senhor de 67 anos disse "Ok, eu quero um tênis bacana, mas não quero um tênis do meu neto". A marca precisa entender para quem está fazendo, adaptar às necessidades do nicho. Pode, por exemplo, brincar com formato e cor, mas não precisa ser igual ao do garoto de 16.



 De que forma as marcas podem adaptar a comercialização desses produtos, quais as bases mais importantes?



WR - Vivemos uma reinvenção do varejo. A indústria já incorporou essa necessidade de ter personalidade e dizer “esse produto é a minha cara”. Por outro lado, o consumidor entende o que é bom para ele, ele faz o trinômio bom, bonito e barato, se identifica. O varejo está perdido nisso, principalmente o de calçados. O varejista ainda não aprendeu que recebeu uma remessa e não vendeu, precisa liquidar, se não falta espaço. O varejo ainda é muito intuitivo, precisa ser matemático. Precisa ter estratégia. Muito do que falamos, aqui, no fórum: estratégia e planejamento. Isso gera menos erro, consequentemente mais lucro. E quando se fala de lucro todos sorriem, acham bacana.



Quando o varejo assimilar todas essas mudanças, as liquidações passarão a ser mais cedo e cada vez mais constantes?



WR - Se olharmos os fatores de sucesso das grandes redes que modificaram a imagem de varejo, Zara e H&M, eles já fazem essa logística de que a roupa nova chega e a velha precisa sair. Essa engenharia do produto na loja é totalmente calculada, totalmente pensada. Em loja de marca poderosa como Gucci ou Prada, as pessoas entram 4 vezes por estação. Nas lojas de fast fashion, entram 17 vezes por estação. Fast fashion é o alface na feira. Se chegar de manhã, vai estar crocante e custará R$ 3. Passou do meio-dia, o sol já detonou, não mais a melhor coisa, vai custar R$ 1. É preciso entender o momento certo de comprar. O impulsivo vai comprar na hora que o alface estiver fresquinho, e quer ser reconhecido, de certa forma, por essa possibilidade de ter algo novo antes de todos. Mas ninguém é sempre o mesmo. O consumidor é um ser mutante.



As marcas, principalmente brasileiras, têm medo de se reinventar perante o público comprador. Como mudar a imagem diante desses novos perfis de consumo?



WR - No Brasil, a revolução está acontecendo nas lojas de grande fluxo. Quando você tem Stella McCartney sendo vendida na C&A, isso é uma revolução imensa, pois Stella não está no ambiente brasileiro. Aí temos o estouro, termina tudo da Stella e você começa a pensar no quanto o consumidor está informado, quando achávamos que não. Temos zonas de conforto na indústria, varejo e criação: “Eles não vão entender”, e as pessoas estão dando o troco. Arezzo faz um trabalho fantástico. A partir de certa data, todas as revistas vão trabalhar com o novo produto. Isso indica padronização de alto a baixo no país, toda vitrine vai ter o mesmo produto, e as pessoas vão saber. Essa inteligência precisa ser para todo produto, não só de moda.



As marcas não subestimam o poder de informação que o público tem? A moda não corre o risco de se tornar muito repetitiva com o excesso, com a repetição?



WR - Isso é o interessante! Se não temos o excesso, a repetição, não vamos prestar atenção no novo. Temos que ter o enfastio, não suportarmos mais aquilo e aí buscarmos o novo. Senão voltaríamos a ser como nossos avós, que tinham sapato preto e um marrom, um terno claro e outro escuro. Possibilita que tenhamos prazer na compra. Comprar precisa ser algo prazeroso, não uma obrigação.



A tecnologia é a principal responsável por transformar os hábitos do consumo em algo mais múltiplo e divertido?



WR - Estamos no processo. As grandes marcas do mundo, os grandes trendsetters, ainda lançam campanhas e produtos em revistas. Os novos designers estão usando muito mais a internet, temos o acesso gratuito nos blogs. Se faz um filme incrível, começa a se multiplicar, há compartilhamento. Compartilhar é uma palavra muito moderna. Desde o início da minha carreira, o que mais levo em conta é a palavra desejo. Tem que criar o desejo. Não adianta ter um produto maravilhoso, se ele não causa vontade. Mas o cinema ainda é um dos principais responsáveis por transformar hábitos de consumo. As pessoas saem modificadas do filme, querendo algo dele.


Para saber mais sobre o fórum inspira mais: http://www.inspiramais.com.br/